Trekking ao avião do Sobreviventes dos Andes
17, 18 e 19 de janeiro 2020 (3 dias e 2 noites) avião do uruguaios
Enquanto o Elio estava se aclimatando para subir o Aconcágua, eu voltei à cidade de Mendoza (Argentina) e contratei um ‘passeio’ com o Eduardo da Tuiti Trekking Mendoza, que fazem esse trekking em várias datas durante o verão.
Dia 1 : Peguei a van no local combinado no centro de Mendoza bem cedinho, antes das 5h da manhã e depois pegamos a estrada. Foram mais de 6h entre estrada de asfalto e terra, até a localidade de San Rafael, cidade de referência para a entrada da trilha. A estrada é linda e passamos por uma montanha linda e majestosa: El Sosneado (5.169m), que nos acompanhou todos os dias, ao fundo.
A van e os carros chegam numa fazenda onde tem o apoio para levar nossas coisas até o Acampamento El Barroso, onde dormiríamos 2 noites. O local é inóspito mas na fazenda há cavalos para levarem nosso equipamento de dormir, como saco de dormir e isolante, até o acampamento El Barroso. Minha roupa de dormir, resolvi colocar dentro do próprio saco de dormir, para levar menos peso, já que meu equipamento era compacto e não havia limite de peso para levar nos cavalos.
Cavalos nos acompanham em toda a jornada, para caso alguém passe mal ou fique cansado com a caminhada.
O grupo
O nosso grupo era enorme, formado por Argentinos, Chilenos, Uruguaios e apenas eu de Brasileira. Mais homens que mulheres e apenas uma criança (menina). Muitos eram desportistas de final de semana e alguns bem sedentários (que foram os que mais utilizaram os cavalos).
Por eu ser a única brasileira, fui apelidada carinhosamente de ‘Brasil’. Achei fofo.
Atravessamos o Rio Atuel e testamos pela primeira vez nossos calçados específicos ‘para molhar’. Um dos pedidos da agência no check list, era levarmos 2 calçados, um para caminhar, que seria mantido sempre seco e um para molhar, nas várias travessias dos rios que enfrentaríamos durante a trilha.
Quase lá
Após atravessar o Rio Atuel, subimos uma colina, onde fica um mirador para o grande Valle do Rio Atuel a nossa frente e atrás o inicio do Valle das Lágrimas, onde nossa caminhada seguia.
O Valle das Lágrimas é lindo e seu nome foi dado antes mesmo do ocorrido da queda do avião dos Uruguaios. O avião caiu no dia 13 de outubro de 1972 (antes mesmo de eu ter nascido) e os sobreviventes passaram o final do inverno nas montanhas. Dos 45 pessoas a bordo, sobreviveram 29 pessoas e até a data do resgate (72 dias após a queda) restaram apenas 16 sobreviventes.
Para conseguirem proteína nesse período, os sobreviventes comeram a carne de seus colegas que tinham morrido na queda. Uma história triste, de superação e emocionante que você pode conhecer lendo os livros publicados, filmes ou documentários. Meu documentário preferido é esse da Discovery.
Caminhada dura
Conhecer esse lugar estava no topo da minha lista de lugares incríveis para conhecer nos Andes…
A caminhada foi dura, pois o calor estava forte e minha água esquentava em questão de 1 hora andando no sol. Mas fora isso a caminhada foi ótima. Foram cerca de 6h caminhando sob intenso sol.
O acampamento El Barroso é fixo, isto é, as barracas ficam lá o ano todo. Dentro de cada barraca cabem cerca de 20 pessoas. O pessoal da Tuiti Trekking Mendoza fez um churrasco incrível para o nosso jantar. Comi muito. Risos. Fomos descansar.
Não tenho fotos dessa jornada, pois meu fotógrafo, Elio, estava no Aconcágua. Mas deixo aqui o vlog desse dia.
Chegando ao Avião dos Uruguaios
Dia 2: Acordamos cedinho, tomamos um café da manhã simples e começamos a caminhada. Os destroços do avião estavam a 9,5km do acampamento, com desnível bem pesado de 1.100m.
Foi uma caminhada bem dura, achei até mais difícil que subir até a Plaza de Mulas, que eu tinha subido dias antes. Mas o caminho é lindo. O Valle da Lágrimas é maravilhoso. Acompanhamos o rio o tempo todo e tivemos que atravessar esse rio e outros menores algumas vezes. As 2 vezes que atravessamos o rio das Lagrimas, usamos os cavalos, pois a correnteza estava muito forte e foi uma recomendação dos guias.
Chegando ao Memorial do avião dos uruguaios, a emoção me tocou. O que mais me chamou atenção foram os ‘presentes’ que as pessoas levam e deixam próximo ao marco do Memorial e em cima dos destroços do avião. Fotos, terços, sapatinhos de bebe, cartas, placas de familiares e amigos das vítimas. Para os uruguaios, realmente os sobreviventes foram e são heróis nacionais.
O que mais me emocionou
Mensagens como ‘fulano, você deu sua carne para salvar minha vida’ foi a mensagem que mais me chocou, pois tinha sido deixada ali por um dos sobreviventes. Soube que alguns dos sobreviventes ainda visitam o local a cavalo em forma de agradecimento. Juro que isso me arrepiou quando vi pessoalmente. A energia do lugar é boa, mas o arrepio volta e meia aparecia na minha pele.
Se eu, que sou apenas uma visitante, questionei o porquê de uns sobreviverem e outros não, imagino o que passou e passa na cabeça daqueles que sobreviveram e visitam até hoje o local.
Depois da ‘visita’ o pessoal da Tuiti Trekking Mendoza preparou um almoço muito gostoso, la em cima, próximo ao memorial, com as carnes e outras delicias que sobraram do churrasco da noite anterior.
Ficamos lá cerca de 1h30min e foi um momento muito importante para mim: estar ali ‘sozinha’ pude agradecer muito a minha vida e de ter saúde e poder estar ali, sendo que, mal sabendo que o ano de 2020 seria tão difícil para todos nós.
Neste dia, foram 12 h entre sair e chegar ao acampamento El Barroso, mas valeu muito a pena…
Veja o vlog desse dia 2:
Voltando a Mendoza
Dia 3: Acordamos cedinho e começamos a voltar até onde tínhamos deixado a van. Ainda bem que o sol deu uma trégua, mas mesmo assim sofri com o calor e a água de beber quente.
Veja o vlog desse dia:
E nesse mesmo dia (19/01/2020), o Elio fez cume do Aconcágua, logo ali, a mais de 200km de mim. Uhuhuhu! Próximo post, coloco as fotos do Elio no cume do Aconcágua e da jornada dele. Também as entrevistas que fiz com ele depois que ele chegou do Aconcágua. Aguardem.
Impressões desse destino:
INCRÍVEL! Tenho vontade de fazer o trekking ao avião dos uruguaios desde quando ouvi a história pela primeira vez. Primeiro trekking que faço ‘sozinha’ e me saí muito bem. Experiência muito importante para mim e para minha insegurança em viajar sozinha. Uma superação. O local é mágico, dá para sentir a energia no ar. Mas conheça a história dos Sobreviventes dos Andes antes de visitar o local, fica mais emocionante. Recomendo muito, mesmo que você não pretenda fazer esse trekking, a assistir o filme ou ler o livro ou ver os documentários. É uma história de superação que merece todo o nosso respeito, pelo amor ao próximo, persistência, vontade de viver e amizade. E estar ali, no cenário onde tudo aconteceu, é ainda mais mágico.
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de nada amigo