Série Aconcágua 10 de janeiro de 2020
Saindo de Confluência
Dormimos em camas no domo, muito mais confortável que no chão, na noite anterior mas acordei várias vezes à noite para fazer xixi, pois o diurético que estava tomando fez bastante efeito (para baixar minha pressão). Tomamos nosso café da manhã reforçado, feito pela queridíssima Macarena da Lanko Alta Montaña, que nosso guia Marcelo Delvaux contratou em Mendoza.
Levamos a maioria de nossos pertences na mochila de ataque mas as coisas mais pesadas e aquelas que os meninos usariam depois de Plaza de Mulas (até o cume) foram levadas pelas mulas até o acampamento base.
Uma coisa que esqueci de mencionar foi que, antes de fazermos essa trip, nos avisaram que a água de Confluência era bem ruim, devido aos sais minerais presentes na região e então, pagamos 1 mula a mais para levar água mineral para bebermos em Confluência. E simplesmente essa água nunca chegou. Acreditamos que o pessoal da Lanko se confundiu e acabou encaminhando essa mula direto para Plaza de Mulas. Eram 10 litros por pessoa, totalizando 40 litros.
Estivemos por 3 dias e 2 noites em Confluência e a água mineral que trouxemos de Mendoza acabou no início do segundo dia, mas um grupo generoso composto por latinos americanos, um indiano e alguns norte americanos, que estavam com o guia Julian (ótimo guia argentino de Mendoza), nos doaram as águas minerais que sobraram. Olha que gentis! Foi a nossa salvação.
Saímos antes da 8h da manhã do acampamento Confluência, deixando para trás um dos nossos companheiros, Gian que acabou descendo de Confluência por problemas de saúde (pressão alta). De Confluência à Plaza de Mulas, são 18 km, sendo desses, 12 km na Playa Ancha, um trecho tenebroso de infinito, sem desnível, mas sobre pedras soltas e monótonas.
Chegando à Pedra Colorada
Depois da bifurcação entre a trilha que segue à Plaza Francia e a trilha que segue à Plaza de Mulas, atravessa-se um rio caudaloso, aquele rio que nos acompanhou até o mirador da Plaza Francia: Rio Horcones inferior, no dia anterior. Após essa ponte vem a primeira subida do dia: íngreme, porém curta.
Lá no alto pudemos olhar para trás e ver o lindo acampamento Confluência ao fundo. Descemos um pouco e chegamos numa área linda, uma Vega (como um lindo campo verde) com águas cristalinas. Estávamos em um suave aclive, por onde andamos quase 1 hora.
De repente a Vega deu lugar a uma área imenso de pedras e as águas desapareceram. Caminhamos por mais algum tempo nessa área até chegarmos na Pedra Colorada, uma pedra grande no meio de uma área deserta. Ali lanchamos e descansamos um pouco, pois a próxima etapa seria a tenebrosa Playa Ancha.
Chegando à Playa Ancha
Em todos os relatos que li sobre o Aconcágua, não teve um que não reclamou desse trecho. São 12 km de monotonia, uma inércia de visual, leve aclive e muito chata. Foram cerca de 4 horas andando pela Playa Ancha. Parecia seca, sem água na superfície, mas ali corre um rio subterrâneo, e as pedras acabam purificando a água, que chega cristalina lá na Vega. Como a natureza é incrível, né?
Pedra Ibanez
O fim da Playa Ancha é a Pedra Ibanez, ponto de parada famoso dos trekkers. Ali ao lado corre o rio Horcones Superior, aflorando na superfície, com suas águas barrentas e com certa velocidade. Ficamos ali descansando mais de 30 minutos. Depois dessa pedra, o terreno volta a ser um sobe e desce, mas mais sobe que desce.
Esse trecho é bem bonito e já podemos avistar as barracas coloridas em cima da montanha ao fundo, ali seria a famosa Plaza de Mulas.
O trecho mais cansativo é o trecho final. Uma subida íngreme e dura, ainda mais depois de se ter andando o dia todo. Confesso que eu estava cansada e não via a hora de chegar. Logo após essa subida, avistamos a nossa direita a face norte do Aconcágua, lindo, imponente.
Chegando na Plaza de Mulas
Plaza de Mulas é gigante. É o segundo maior campo base do planeta, perdendo apenas para o campo base do Everest. Fácil se perder e entrar no domo errado. Fizemos os 18 km em 9 horas.
Fizemos o check in na Lanko e nos direcionaram para a nossa barraca domo. Pegamos nossos pertences que as mulas trouxeram a 2 dias atrás e nada das nossas águas minerais. Sumiram nossas águas. Mas haviam 8 garrafas de 5 litros jogadas em um canto, reservadas para um guia que ninguem da Lanko conhecia. Eu estava desesperada por água potável, uma vez que a água de Plaza de Mulas estava horrível e dando dor de barriga em todos.
Não tive dúvidas, peguei uma garrafa de 5 litros de água e disse ao pessoal da Lanko que quando as minhas garrafas chegassem, eu devolveria. Eu sabia que nossas garrafas nunca iriam chegar. Fui individualista mesmo. Essa água eu tomei nos próximos 2 dias e 3 noites, até voltar a Mendoza.
Jantar agradável com nossos amigos poloneses
Na hora do jantar, dividimos o domo refeitório com os simpáticos clientes de Julian (os mesmos que nos doaram as águas em Confluência) e um grupo de 6 poloneses.
Esses poloneses criaram um caso com a gente. Vou contar a história: a tarde, quando chegamos, a Renata (nossa amiga do nosso grupo) deixou seu casaco no encosto da cadeira que ela usou. Quando retornamos para o jantar, essa cadeira estava na mesa dos poloneses e a nossa mesa estava só com 3 cadeiras (estávamos em 4 pessoas).
Eu, educadamente, fui a mesa dos poloneses e perguntei se alguém estava usando aquela cadeira e a mulher do grupo começou a me xingar, gritar, se levantou e veio em minha direção. Eu recuei, pedi desculpas e saí do domo para pedir uma cadeira ao pessoal da Lanko. Quando retornei, a Renata estava chegando e antes mesmo de eu comentar com ela o ocorrido, ela foi direto na cadeira dos poloneses, fazer o mesmo que fiz. A polonesa estava possessa! Surtou! A Renata, em inglês, disse se pelo menos ela poderia pegar o casaco dela. Daí os homens poloneses que estavam na mesa, disseram que sim, claro.
A tarde eles já tinham nos irritado, porque quando esses poloneses chegavam ao domo, passavam pela mesa do buffet e pegavam tudo para levar para a mesa deles. Era um buffet, você tirava da mesa só o que ia consumir, mas não, eles pegavam a bandeja inteira de manteiga, de geleia, de sache de café e chá, açúcar, etc, e a gente ficava sem. Eles achavam que estavam sozinhos no domo. Sem senso nenhum de compartilhamento.
Respeito é bom e eu gosto
A água quente vinha em uma garrafa térmica de 5 litros. Essa água era para o café e chá. Sabe o que eles faziam? Enchiam as garrafinhas de água deles. Várias. Levavam a garrafa térmica para a mesa deles, enchiam TODAS as garrafinhas deles e a gente ficava sem água para tomar café. Aff…
Depois da desavença do jantar, o guia Marcelo disse que a mulher estava nervosa, porque antes de eu ir pedir a cadeira, ele já tinha ido pedir antes e ela grossamente disse que não podia pegar. Então ela me respondeu daquele jeito, porque o pedido era reincidente. Mas eu não estava no domo na hora que o nosso guia pediu. Injustificável essa grosseria dela.
Bom, ficamos TODOS de mal humor e claro, a conversa foi só sobre a falta de educação deles. O nosso guia disse que sempre tem treta com os poloneses e russos quando ele está por lá. Quando cheguei em casa fui pesquisar sobre essa má fama desse povo e descobri que eles sofreram muito no decorrer dos últimos mil anos e por isso são assim. Sinceramente, para mim nada justifica.
Pior! Eu teria que conviver com eles por mais 2 dias e o Elio, Renata e guia, até o retorno do cume. Pelo menos dessa eu me livrei. Risos.
Depois desse agradável jantar, fomos descansar.