20 de outubro de 2017
Acordamos cedinho e depois do café da manhã na pousada em São Raimundo Nonato, o guia Zezão chegou e fomos, em nosso carro alugado, até a entrada principal do Parque Nacional Serra da Capivara. Hoje estava previsto fazer os Circuitos: ‘Sítio do Meio’ e ‘Pedra Furada’. Na guarita da entrada do parque, pagamos R$16,00 por pessoa e esse ingresso seria válido para o dia todo, em qualquer uma das entradas do parque. Você tem a opção de comprar os ingressos todos os dias ou para vários dias.
Parque Nacional Serra da Capivara
Criado em junho de 1979 após Niéde Guidon e sua equipe descobrirem pinturas rupestres e artefatos da pré-história na região. É uma unidade de conservação arqueológica impecável, pois as condições climáticas (seca e umidade do ar baixa) conservaram todas as pinturas, que são um verdadeiro museu a céu aberto. As formações rochosas também dão um espetáculo a parte, com várias vistas panorâmicas lindíssimas. Desde 1991 a UNESCO inscreveu o parque como sendo um Patrimônio Cultural da Humanidade.
Existe atualmente cerca de 1.400 sítios arqueológicos catalogados, 6 Circuitos abertos ao público (Serra Branca, Boqueirão da Pedra Furada, Sítio do Meio, Baixão das Mulheres, Desfiladeiro e Chapada) e cerca de 30 trilhas diferentes dentro desses circuitos. Tem trilha para no mínimo 7 dias. Como ficaríamos apenas 4 dias por lá, fizemos o máximo possível sem perder a qualidade do passeio.
Circuito Sítio do Meio
Leva quase 2 horas para fazê-lo com calma, mas como emendamos ele com o Circuito da Pedra Furada, levamos 4:30h. Deixamos nosso carro estacionado na entrada do Circuito Sítio do Meio e voltamos a pé da Pedra Furada pela estrada de chão. Foi duro, pois nessa volta pegamos bem o sol do meio dia, mas valeu a pena, pois fizemos uma trilha que poucas pessoas fazem. E mesmo sendo bem pouco acessada, estava em perfeitas condições, assim como todas as trilhas.
O local conta com lindas e conservadas pinturas rupestres, tocas de beleza cênica incríveis, trilhas com vistas panorâmicas que jamais pensei em encontrar em pleno sertão nordestino. Aqui foram encontrados os pedaços de cerâmica mais antigos das Américas, de 8.960 anos, e o primeiro artefato americano em pedra polida – uma machadinha de 9.200 anos.
Boqueirão Pedro Rodrigues
Mais uma linda toca com pinturas rupestres. Depois que saímos da toca, pegamos uma trilha que leva até a vista Ponta da Serra. Essa trilha é linda e seu início é por um paredão que subimos escalaminhando. Mas vale a pena, pois a vista lá de cima é incrível. Essa trilha nos leva até a Vista Ponta da Serra.
As caminhadas são curtas, pois paramos muito em todas as tocas pelo caminho. Mas não esqueça da sua hidratação e proteção solar. É quente e o sol castiga.
Circuito Pedra Furada
Descemos o paredão íngreme que separa os dois circuitos e lá em baixo fomos ao encontro dos macacos-prego que aqui nessa região tem algumas peculiaridades: aprenderam lascar pedras (e as lambem talvez para se nutrir de sais minerais) e são os únicos primatas que usam ferramentas para sua alimentação (usam galhos para pegar algum inseto em buracos e conseguem quebrar castanhas batendo-as contra as pedras). Agora, os arqueólogos terão que repensar nas pedras lascadas por hominídeos encontradas na região, podem ter sido por primatas pré-históricos. 🙂
A imagem da Pedra Furada é linda! De longe o ‘furo’ parece pequeno, mas ao se chegar mais perto vemos como o vão é grande. Até bem pouco tempo atrás podia-se subir e ficar em baixo da ponte que liga as laterais do ‘furo’, mas por vandalismo de alguns visitantes, que gravaram seus nomes nas paredes do arenito, agora não se pode mais. Justo! Não sabe se comportar, não brinca mais!
Toca da Fumaça e ‘Anfiteatro’
Depois fomos para a Toca da Fumaça e vimos mais algumas pinturas rupestres. Depois seguimos para uma linda vista panorâmica de um dos baixões ou cânions. A gente se sente uma formiga na imensidão dos paredões. O local, por ser um vale, parece um anfiteatro natural. Vista cênica inesquecível.
De volta ao estacionamento
Agora chegou a hora mais dura dessa trilha: voltar pela estrada de chão até o carro… O carro estava a 3 km da gente, mas confesso que foram os piores 3 km da minha vida. Um sol estonteante em cima de nossas cabeças, bem o sol das 13 h. Um calor insuportável de 42ºC. Tínhamos água, mas ela estava quente. Isso mesmo: quente! O chão refletia luz e mormaço em nossos rostos e o boné só protegia a radiação direta do sol. Foi duro! Viu? É isso que dá treinar na academia com ar condicionado! Na hora do perrengue, sofre!
Chegamos no carro exaustos e fomos almoçar no Restaurante da Fábrica de Cerâmicas ali próximo. Ótimo almoço! E a tarde fizemos o Boqueirão da Pedra Furada, mas essa aventura vou escrever em outro post, pois esse já está bem grande.
…Continua…
Tem o vídeo desse dia (completo). Aproveita e veja o spoiler da tarde desse dia no vídeo! 😉
Como historiador, admiro tudo o que Niede Guidom representa. Suas descobertas bateram de frente com as teorias dos norte-americanos, no que se refere a idade do primeiro “homem americano” (a teoria da “flecha de Clóvis”). A associação dos arqueólogos norte-americanos, juntamente com o arqueólogo brasileiro, Walter Neves, tentaram ridicularizar Niede Guidom. Mas, no final, tiveram que “engolir” (como dizia o Zagalo) as suas descobertas.