20 de janeiro de 2019
Subindo o Paso Mladineo
Acordamos cedinho e depois do café da manhã arrumamos nossas coisas e seguimos para mais um dia de trilha, aqui na Ilha Navarino, extremo sul do Chile. Os guias da Backpaking Brasil estavam no comando, já que a trilha é bem mal sinalizada e nada demarcada. Estávamos entre os hitos 7 e 8 das marcações dessa trilha.
Andando sobre a turfa (ou turba) macia e desviando de muitas lagoas naturais ou construídas pelos castores, por quase 2 horas, em leve subida, encontramos nosso primeiro obstáculo difícil: o Paso Mladineo, com seus 650m de altitude. A subida foi lenta e fria. Ventava muito. Até precisei colocar sob meu anorak o meu casaco pluma de ganso. Nem na travessia Dientes de Navarino precisei colocar os dois casacos enquanto andava.
Paso Mladineo
O paso Mladineo fica no hito 12 e o fim da trilha, na Baia Wulaia, é o hito 15. Então eu acreditava que o percurso estava no fim. SQN! No próximo post, vou disponibilizar o guia que conseguimos dessa trilha.
Deixamos nossas mochilas no paso e subimos a montanha a esquerda, para desfrutar uma vista ainda mais bonita. Creio que subimos cerca de 100 m de desnível. E realmente a vista lá de cima era espetacular. Lá de alto avistamos quase todo o percurso, à direita, desde onde começamos a caminhar, Ushuaia e o Canal Beagle, à frente o Canal Murray, a Baia Wulaia e as cadeias montanhosas e nevadas da Ilha Hoste, Glacial Holanda e Itália e a Cordilheira Darwin, e mais à esquerda o imponente Monte King Scott.
Descendo o paso Mladineo
A descida é tão íngreme quanto o lado da subida. E saber que no dia seguinte teria que subi-lo, até chegava desanimar. Assim que descíamos, a temperatura ambiente ia subindo. Ainda bem. Andamos por quase 1 hora em um campo bem encharcado até chegar em uma floresta. Os guias estavam preocupados com esse trecho, pois quando estiveram aqui na última vez a 2 anos atrás, tiveram muitas dificuldades de encontrar o caminho certo.
Mas assim que entramos na floresta, encontramos marcações recentes, tanto com tinta branca com dois traços vermelhos no tronco das árvores, como plásticos coloridos amarrados nos galhos mais visíveis. E quanto mais adentrávamos floresta abaixo, mais fácil ficava a trilha, pois até grandes troncos de árvores caídas foram cortados com motosserra para ‘limpar’ o caminho. Acreditamos que os funcionários da Australis Cruzeiros tenham feito esse maravilhoso trabalho.
Baia Wulaia
Entramos por um portão de madeira no meio da trilha e dali em diante estávamos em uma propriedade particular. O governo chileno deu a concessão dessa área a Australis Cruzeiros, que levam seus clientes até Baia Wulaia como parte do passeio de seus cruzeiros na Patagônia e Terra do Fogo. O local está super bem conservado: tem lixeiras, bancos, trilhas demarcadas, muitas placas de informação da fauna, flora e histórias do local. Fiquei chocada com tantas coisas ali no ‘fim do mundo’.
Também ficamos impressionados com a Casa Stirling, uma linda construção que funciona como museu e sede da Australis Cruzeiros nas visitas que fazem aqui desse local. Estava fechada.
Seguimos direto até a beira do mar, passando pelo local de acampamento ainda dentro da mata. Mas quando chegamos na praia e avistamos aquela paisagem linda e rústica, resolvemos acampar ali mesmo, já que não havia pretensão de chegar nenhum cruzeiro naquele dia.
Foi o melhor acampamento de toda essa jornada. O barulho das pequenas ondas quebrando ao nosso lado foi bem relaxante. A praia é de pedras negras e amarelas (devido aos liquens), possui um cheiro forte de maresia, muitas aves marinhas, um pier exclusivo para nós, muitos mariscos gigantes nas pedras e um rio de água doce, que seria nossa fonte de água potável. Estamos ou não no Paraíso?
Depois de armar o acampamento eu e o Elio fomos conhecer as trilhas locais que levavam até a margem esquerda da praia. No topo do morro, além da linda vista, pudemos ainda conhecer um pouco da história dos Yámanas (nativos da Terra do Fogo e que se abrigavam aqui para enfrentar o rigoroso inverno) e seu inusitado encontro com Charles Darwin em 1833.
Jantamos e fomos ter nosso merecido descanso!