Cume do Pisco na Cordilheira Branca

28 de julho de 2016 – Cume do Pisco

E hoje foi o grande dia de testar meus limites e superar minhas antigas marcas. E começou cedo. Acordamos as 2 horas da manhã, tomamos café e começamos a subir até onde começava o gelo. Andamos 40 minutos. Estávamos eu, meu guia Ronal, o Elio e o guia dele Vladimir da Artizon Adventure. Por que dois guias? Porque somos amadores em escalada no gelo e por segurança preferimos contar com esses dois profissionais. E garanto que só consegui chegar ao cume por causa do meu guia…

Início da trilha

No início do gelo, um grupo de 5 alemães com seus 2 guias, nos alcançaram. Eles estavam vindo do campo base e devem ter acordado mais cedo ainda. Colocamos os grampões e as cadeirinhas e as 3:30 h começamos a escalada na neve. Estávamos a 5.000 m de altitude e o desnível seria de 750 m.

O início da trilha no gelo é bem difícil e escorregadia, pois é a parte que ocorre o degelo e fica bem duro, pedra de gelo mesmo. Os grampões e as piquetas não grudam e o risco de queda é bem alto. Mas foram apenas uns 3 minutos assim, depois a neve ficou fofinha e mais fácil de caminhar. Juro que pensei que seria o trecho todo de gelo e quando percebi que já tinha passado me deu um super alívio, pois não sei se aguentaria.

As próximas 2 horas foram tranquilas, caminhando na escuridão e num passo bem lento, parando sempre para pegar um pouco mais de fôlego. O frio estava extremo (-10 a -12ºC), mas como estávamos com nossas roupas de alta montanha, não passamos frio. Apenas na hora de tirar as luvas para gravar ou fotografar é que as mãos congelavam.

As 6 horas da manhã o sol nasceu e a vista se descortinou na nossa frente. Que imensidão de neve! Olhando lá de baixo não dá para ter noção de quão desértico e grandioso é tudo lá em cima. Atravessamos gretas profundas num salto de 50 cm, avistamos cavernas de todos os tons de azul que existem, passamos por baixo de cortinas de água congelada e até escalamos um paredão usando nossas piquetas.

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Após 2 horas de caminhada, comecei a ficar fraca. Andava 20 passos e parava. Quando observei os alemães alcançando o cume, fiquei feliz por eles mas triste por mim, pois ainda nos faltavam mais 1:30 h de caminhada no mínimo.

Nos últimos 40 minutos cruzamos novamente com os alemães que já estavam descendo e todos nos deram votos de força, coragem e ânimo. Eles não sabem o quanto essa troca de palavras me ajudou a continuar a caminhar…

Depois da última grande subida, chegamos a um platô que eu jurava que era o cume, mas o guia nos disse que ainda faltavam 5 minutos. Eu estava muito cansada e disse pra ele que meu cume era ali, que não fazia questão de chegar ao cume verdadeiro, pois a vista seria a mesma. Ele disse que não! Que se eu parasse ali eu não iria provar a mim mesma que eu era capaz e que sempre que encontrasse um problema pela frente eu iria me conformar com o pouco.

Sabe, eu não sou de provar nada para ninguém! Eu não quero ser melhor que ninguém! Mas depois das palavras do guia eu entendi que eu só preciso ser melhor que eu mesma e essa sensação de superação é o que me move para frente.

Respirei fundo e continuei! Nesses 5 minutos restantes o guia me puxava pela cadeirinha e falava palavras de ânimo para mim. O Elio estava atrás de mim (cerca de 10 m) mas eu não conseguia ouvir o que ele falava por causa do vento. Mas tinha certeza que ele também estava me incentivando para chegar lá.

Cume do Pisco

As 7:30h alcançamos o cume do Pisco! Que incrível! Eu consegui! Nós conseguimos! 5.752 metros, nossa nova marca. Pensei que fosse chorar, mas apenas se formou um nó na minha garganta e eu fiquei muda apenas contemplando meu feito e agradecendo a Deus pela conquista.

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Obrigada a Fuji Sports pelas aulas funcionais

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Cume do Pisco

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Obrigada a equipe Artizon Adventure pelo profissionalismo

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Ficamos lá cerca de 30 minutos e começamos a descer. Foram 2 horas descendo. Havia algumas partes que perguntava ao guia se havíamos mesmo passado por ali de madrugada, pois não tinha percebido algumas partes bem expostas que atravessamos. Nesse retorno, avistei vários momentos que soavam a sirene de perigo na minha cabeça e logo em seguida eu pensava: ‘sem crise, já passei por aqui…’

E assim é a nossa vida! Em casa, no trabalho, no esporte. Quando superamos algum medo ou barreira pela primeira vez, quando esse problema nos surge novamente parece que fica mais fácil de enfrentar. A gente fica mais forte, mais experiente, mais confiantes.

Chegamos no final do gelo, tiramos nosso equipamento de alta montanha e lanchamos, já que eu estava com muita fome. Dali, descemos ao acampamento La Morrena, onde almoçamos mais tarde. Depois do almoço descemos até o Campo Base do Pisco.

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Voltando ao Campo Base

Mais uma prova de coragem e superação estava por vir. Na vinda, descer as correntes do precipício, foi fácil. Só ficava imaginando como seria subir aquele paredão de volta. O guia perguntou se eu queria pôr a cadeirinha e eu disse que não. Ele gentilmente pegou minha mochila e eu fui sozinha. Subi super bem nas correntes. Muito rápido, pois queria me livrar logo daquele trecho. Depois dessa aventura, chegamos no campo base. Fomos descansar.

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Incrivelmente, agora que estou escrevendo esse texto, sinto orgulho e saudades desse dia. Se você assistir o vlog (aproveite e inscreva-se no canal) verá que eu estava tão cansada que disse que ‘nunca mais andaria tanto tempo na neve’. Mas agora, com mais calma, posso garantir que faria tudo de novo. Daí você me pergunta se eu gosto de sofrer, não é mesmo? Eu te respondo que não, não gosto de sofrer. Apenas gosto de me superar! E só quem já se superou alguma vez na vida, sabe do que eu estou falando!

Veja mais episódios dessa série na Cordilheira Branca:

Aclimatação na Laguna Shallap

Aclimatação na Laguna Uruscocha

Trekking Santa Cruz primeiro dia

Trekking Santa Cruz Campo Base Alpamayo dia 2

Trekking Santa Cruz Paso Union dia 3

Trekking Santa Cruz último dia Paso Portachuelo

Nevado Pisco Campo Base Pisco dia 1

Nevado Pisco Campo La Morrena dia 2

Cume Nevado Pisco dia 3

Laguna 69 desde o Campo Base Pisco

Outros trekkings por Huaraz

6 comentários sobre “Cume do Pisco na Cordilheira Branca

  1. Marcus

    Você descreve em detalhes da nossa concepção humana toda a sua trajetória neste que é sempre um grande projeto: nos superar—nos. Muito emocionante e humana toda a sua narrativa. Serve como referência para tudo a que nos dedicamos.
    Abraços

    1. Admin Autor da Postagem

      Oi Marcus!
      Ler um comentário como o seu é o que mais me deixa feliz!
      Obrigada por nos acompanhar e tenha certeza que escrevo com a intenção de incentivar todos a superarem seus limites, não importando o grau de dificuldade deles…
      Volte sempre, será um prazer recebê-lo aqui!
      Gratidão!

  2. Mary Bolina

    Uaaaaaaaaaaaau, as imagens e o relato são de dar água na boca. Parabéns por mais esta conquista. Deus os abençoe e os proteja nas estradas desta vida.

  3. claudia Aparecida Monguilhott

    Apesar de ver esse seu relato só agora em 2019 , porque estou pesquisando para ir em Huaraz, realmente vc fala a nossa linguagem q tem como entender e sentir tudo q vcs passaram, e nos dá forças pra seguir e fazer sem medos, parabéns pela suas conquistas.

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