12 de janeiro de 2015
Acordamos lá pelas 5h da manhã, arrumamos nossas coisas e saímos da barraca para tomar nosso café da manhã, preparado carinhosamente pelos guias contratados pela Roraima Adventure. Sempre o café da manhã é reforçado, para aguentar as caminhadas do dia. Na barraca fez 12ºC, a noite mais fria de todo o trekking. Fora dela chegou a 6ºC. O dia amanheceu meio cinza, gelado e a caminhada começou exatamente as 6:45h.
Subindo o paredão
O subidão logo saindo do acampamento foi um aquecimento para os músculos (cerca de 10 minutos de uma encosta com erosão e escorregadia).
Acampamento Base do Monte Roraima |
Primeira subida do dia, morro com erosão |
Depois desse trecho, a trilha segue debaixo de uma floresta linda. Muitas pedras, raízes, musgos… Um lugar tão mágico que cheguei a procurar fadas e elfos pelo local! Muitas pessoas descendo e nos desejando força e sorte!
Área de floresta na subida do Monte Roraima |
Flores pelo caminho |
As 8:20h chegamos a um dos pontos de coleta de água e nesse local o ‘muro’ do paredão do Monte Roraima fica próximo de nós. Vi o guia Cheo indo ao paredão e fazer uma prece. Perguntei o que ele estava fazendo e ele disse que estava pedindo permissão à montanha para o grupo alcançar e desfrutar seu topo.
Não resisti e subi no mesmo local para pedir a minha permissão em particular. Toquei as duas mãos na montanha e pedi. Eu senti um arrepio na espinha ao tocar a rocha e ao fechar os olhos, senti uma paz muito grande. E foi nesse momento que tive certeza que sim, nós tínhamos conseguido a permissão! Minha ansiedade para passar pelo Passo das Lágrimas estava quase controlado.
Um dos encontros com o paredão do Monte Roraima |
O desnível é bem forte. São 1000 metros em 4,5 km. Mas devagar e sempre a gente consegue. O grupo estava em um ritmo bom (nesse dia o grupo se dividiu em 2 pelotões: Pelotão Jaguar, que ia desbravando na frente, e o Pelotão Jaboti, que estava um pouco mais atras). Pela primeira vez em uma expedição consegui ficar no grupo da frente! Orgulho!
As 9:30h chegamos a um mirante. Dali pra frente teria uma forte descida seguida da pior subida, a que contempla o Passo das Lágrimas e da reta subida final. Os guias nos ofereceram os deliciosos abacaxis, uma dose de açúcar preciosa. Ficamos ali até as 10h e pudemos conversar com vários trekkers que estavam descendo.
A sensação que tive foi que ou você AMA ou ODEIA o Monte Roraima. Pessoas relataram que adoraram, desfrutaram dias agradáveis, viram um planeta diferente dentro do nosso próprio planeta e outras pessoas que acharam terrível, muito frio, muito desconfortável, muito esforço para nada. Meu pensamento nesse momento foi apenas em não pertencer ao grupo que o odeia.
Vista do último mirante antes do Passo das Lágrimas |
Passo das Lágrimas
As 10:15h chegamos ao começo do Passo das Lágrimas. O guia sugeriu para colocarmos nossas capas de chuva pessoal e das mochilas. Eu estava com calor e preferi ir sem capa, pois a capa me atrapalha um pouco para olhar o chão e essa distração poderia me levar a um indesejado tombo, que poderia pôr em risco minha subida. Preferi deixar ‘as lágrimas’ do Monte Roraima me batizarem por completo e já começar a entrar no clima de ser abençoada pelos ‘deuses’ da montanha.
O Passo das Lágrimas estava bem seco, quase que uma garoa fina que caía do topo. Encontramos duas garotas venezuelanas sofrendo muito para fazer esse trecho (inclusive chorando) e um membro ‘super cavalheiro’ do nosso grupo ajudou uma delas. A ajuda veio em apenas um dar de mãos e palavras de força e incentivo.
Talvez o medo de alguns trilheiros nesse trecho seja apenas falta de confiança em si mesmos e nesse caso nada melhor que uma palavra e uma mão amiga, mesmo que seja de um desconhecido, para continuar… O preparo psicológico que sempre comento por aqui é uma das chaves principais para terminar e se superar nesses ambientes!
Descendo para pegar o subidão do Passo das Lágrimas |
A caminho do Passo das Lágrimas, sempre usando as mãos |
Última parada para juntar o grupo para passar o Passo das Lágrimas |
Passo das Lágrimas |
A ajuda dos amigos: venezuelanas sendo escoltadas pelas mão, a melhor ajuda |
Avistei o topo as 10:50h e delirei com o céu azul lá em cima… Como pode? Um dia cinza em baixo e um céu azul lá em cima? Nem preciso dizer que essa visão só me deu mais fôlego e energia para continuar a subir, subir e subir mais um pouco.
Avistando o céu azul no topo |
Flores pelo caminho |
Usando as mãos para tornar a subida mais fácil |
No topo
Chegamos no topo as 11:15h e nos cumprimentamos. Eu segurei o choro, mas não foi de tristeza não… Eu estava eufórica por chegar ao topo sem dores, sem cansaço excessivo e poder contemplar o dia lindo que estava fazendo. Ficamos por ali no mirante até as 11:40h, quando decidimos seguir caminhando pelo topo até nosso hotel ‘Guacharo’ a mais ou menos 1 hora e 10 minutos dali.
Mirante do topo |
O voo do amigo Daniel |
Caminhar no topo é outro teste. Agora um teste de equilíbrio e esforço mental. Você precisa prestar atenção onde vai pisar, pois se sair do caminho certo (sempre a parte mais branca do piso) você poderá escorregar. Há muitas poças de água, jardins de bromélias, pedras altas e baixas… O sobe e desce das pedras é constante. Engana-se quem acha que o topo é liso como uma mesa…
Uma tartaruga! Achou? Procura mais para cima da foto! 😉 |
Chegando no hotel Guacharo |
Hotel Guacharo
Chegamos no acampamento no Hotel Guacharo as 12:50h e nossas barracas já estavam todas posicionadas em uma gruta/caverna linda, com um jardim próprio e uma varanda incrível! Sim, estávamos no lado da borda que avistamos durante os 2 últimos dias, bem próximo ao ponto culminante do Monte Roraima, o Maverick (2875m).
Hotel Guacharo, Monte Roraima |
Cozinha do hotel Guacharo |
Saímos para tomar banho em uma jacuzzi particular com águas mais quentes quando comparada a cachoeira do dia anterior. E ao voltarmos o restante do grupo chegou e fomos almoçar. A tarde ficamos desfrutando a linda paisagem das varandas do hotel.
No jardim do hotel |
Jacuzzi do hotel |
No jardim do hotel |
Vista da varanda do hotel |
Antes do jantar, encontrei um escorpião ao lado da minha blusa que tinha deixado fora da barraca. Levei alguns segundos para processar que animal era aquele e quando deduzi, fiquei deslumbrada. Em seguida avisei o grupo sobre nosso visitante e no nervosismo da hora pedi que o matassem!
O guia o pegou e o colocou em um local seguro e me deu uma bronca por fazer tal pedido. Disse que a caverna pertencia aos animais nativos do local e que nós éramos os invasores. Fiquei com muita vergonha da minha atitude e nem ia relatar esse deslize meu aqui para vocês. Mas achei prudente, uma vez que, mesmo eu, sendo acostumada a fazer esse tipo de passeio, as vezes surto com animais indesejados.
Precisamos ter a consciência que realmente nós somos os invasores e não eles. Espero que esse meu desabafo alerte outros caminhantes quanto a isso! Vergonha da minha atitude!
Jantamos e fomos dormir. Nossa barraca estava num local onde havia um degrau de uns 5 cm entre as costas e o bumbum e ainda uma caída para a direita da barraca. Dormi muito mal. Primeiro por causa da posição da barraca, que insistia de me fazer escorregar para a parede da barraca e segundo por causa do remorso que senti ao pedir para matarem o escorpião.
Mas o meu medo maior era que ele viesse se vingar de noite e me picasse pela parede da barraca… Mesmo o guia esclarecendo que aquele tipo de escorpião não matava, apenas daria uma dor muito forte e febre por umas 5 horas, eu não consegui dormir direito!
Remorsos a parte, eu estava dormindo no topo do Monte Roraima e isso era tudo que eu queria!
Mapa da aventura de hoje: Chegando no topo |
Maravilhoso relato, Carla! Fotos belíssimas, Elio!! O Monte Roraima, como nunca antes tinha tido o prazer de conhecer através de fotos e textos. Fico feliz por vocês terem podido ir até lá, e nos apresentarem tão bem o mesmo. Seu desabafo é uma lição, para todos os que amam a natureza e seus seres. Sim, nós somos os "invasores", os únicos que não cumprem fielmente os seus deveres para com o planeta. Ah, e não tenho dúvidas de que muitos elfos, fadas, gnomos etc., presenciaram a passagem de vocês pelo Monte Roraima. Infelizmente, vê-los é algo muito raro nos dias de hoje, mas… com certeza eles estavam e continuam lá. Tudo que é material, só pôde se formar através do trabalho dos seres da natureza. Tudo! Contemplemos! =)
Rubens, amigo!
Que comentário lindo!
Aprender a respeitar a natureza e os seres que nela vivem é uma das coisas mais difíceis que venho aprendendo e que ainda tenho muito a aprender!
Aliás, todos nós!
Obrigada pela agradável visita!
Beijos
Carla, seu blog está lindo! Li no grupo da ABBV que você fez tudo sozinha. Parabéns!!
Obrigada Silmara!
Sim, fiz tudo sozinha.
Não gastei um tostão com o blog, já que não ganho nada com ele…
Tudo garimpando na internet dicas e tudo mais.
bjs
Parabéns, muito bonitas as fotografias, espero que continue divulgando as belezas de Roraima.
Com certeza Marly!
É só continuar a nos acompanhar.
Bjs
Oi Carla,
Adorei as fotos e o relato sobre o monte Roraima. Quero muito ir conhecer esse pedacinho do Brasil mas fico um pouco preocupada com a duração de 8 dias da travessia e o peso.
Como foi para você?
Li que é possível contratar alguém para carregar o mochilão. É necessário?
Sobre dormir e banho, é sempre acampando em barracas ou existem abrigos? Banho em cachoeira ?
Desculpa as mil perguntas. Beijos e obrigada!
Oi Gaia. Prazer enorme poder ajudar com suas duvidas. Como disse no relato pra mim foi tranquilo, pois estava carregando uns 4 quilos na minha mochila de ataque. Mas acho que sofreria se tivesse carregado minha cargueira. Sim, contratei um carregador e ele levou 7,5 kg para mim. Vale muito a pena contratar um. Sobre dormi, todos acampamentos são em barraca e no topo as barracas são montadas dentro das cavernas. Nada de abrigo. Os banhos são nos lagos que se formam lá em cima. Não tem banho em cachoeira. Vale a pena ir. O lugar é mágico e lindo e todo o esforço é compensado, eu garanto.
Bjs e obrigada pelo carinho.
Oi Gaia. Prazer enorme poder ajudar com suas duvidas. Como disse no relato pra mim foi tranquilo, pois estava carregando uns 4 quilos na minha mochila de ataque. Mas acho que sofreria se tivesse carregado minha cargueira. Sim, contratei um carregador e ele levou 7,5 kg para mim. Vale muito a pena contratar um. Sobre dormi, todos acampamentos são em barraca e no topo as barracas são montadas dentro das cavernas. Nada de abrigo. Os banhos são nos lagos que se formam lá em cima. Não tem banho em cachoeira. Vale a pena ir. O lugar é mágico e lindo e todo o esforço é compensado, eu garanto.
Bjs e obrigada pelo carinho.